Tudo Pra Fazer

Algum resquício de alegria
Será que no fundo sentia?
A sua alma
Tão vazia
Perturbada
Anuviada
Por uma perturbadora fumaça
Que fosse o fim
Que fosse o fim!
Ela desejava

O horizonte procurava
Mas nada
Só um sol vermelho brilhava
Era a morte que chegava
Marrom, cinza
Enrolada em verde e amarelo
O amarelo que virou vermelho
O azul que já não tinha
O verde que virou fumaça

Que fosse o fim
Que fosse o fim!
Ela desejava

Sou magra, sou negra, sou baixa, sou indígena; branca, feia, amarela, colorida; ruiva, linda, careca, bochechuda; alta, morena, trans, rastafari; cristã, gorda, peituda, peluda; hippie, forte, esbelta, umbandista; cadeirante, corcunda, velha, jovem; loira, beiçuda, espírita, lésbica; vermelha, bunduda, dentuça, zóiuda; atéia, cega, black power, anã; nariguda, sardenta, enrugada, pobre; surda, gigante, budista, protestante. Sou isso e mais aquilo e uma infinidade de outras coisas. Tenho sangue vermelho como você e o mundo inteiro. Tenho coração, cérebro, pulmão, coluna e glândulas mamárias. Tenho ventre, tenho seio. Sou mulher, sou ser humano. Muito mais ser que muito humano. Muito mais sapiens do que homo.

Então sem xororô, sem nhenhenhe.

Mulher é o que ela quiser.

Um desejo
Um plano
Risco e rabisco
Anotando

Voando, navegando
O céu e o mar
Se encontrando

Pelos caminhos misteriosos
Um tanto quanto tortuosos
No ritmo das células se multiplicando
Ao som dos pássaros cantando

Ao vai e ao vêm
E ao pranto
Àquele que parte
E ao que está chegando

Faço os votos de adeus
Ao menos por enquanto
O sol há de se por
Eu hei de seguir caminhando